domingo, 6 de setembro de 2009

Mãe contra filha

Desde o princípio de nossas vidas somos ensinadas e instigadas a casar, ter filhos, ter a nossa casa de pátio grande e animais de estimação. Mostram-nos que a vida deve ser como a de um conto de fadas e crescemos sonhando com o Príncipe Encantado. Geralmente no inicio da idade adulta encontramos o homem dos sonhos, mas muitas vezes ele existe apenas em nossa cabeça. Não ouvimos mãe, pai, irmão, amiga e mais ninguém que fale contra a pessoa amada. Não há mais jeito, você está apaixonada. O companheiro parece estar por você também. Não há por que esperar mais. Vocês se amam, não importa que não haja como se sustentarem. Viverão de amor e serão felizes por toda a eternidade. Um belo dia você acorda e se depara com um homem totalmente estranho ao seu lado. Ele não é mais nem de longe tão bonito quanto era. Não te traz mais flores, não faz mais surpresas, não diz que te ama e que largaria o mundo por você. Briga por qualquer coisa, tem ciúmes até da sua sombra, e as coisas que antes você amava, agora odeia. Seja bem-vinda ao mundo real.
Sem perceber você deixou de viver a sua vida, os seus sonhos, ter a sua carreira e construir quem realmente é. Agora tem filhos, (com certeza são lindos e você não se arrepende deles, mas estão lá), tem uma casa pra cuidar e uma depressão pra administrar. Aos poucos sua fixa vai caindo e percebe que de tudo que havia idealizado aos 15 anos só conseguiu o marido. Utópico ainda por cima. A casa em que vive é alugada e não tem o jardim florido que sonhava, o único animal de estimação que você possui dorme ao seu lado na cama. Sua vida sexual deixa muito a desejar e você não consegue mais entender para onde fora toda a vitalidade que possuía no início do casamento.
Espere! Nem tudo está perdido. Você ainda tem a sua filha e pode depositar nela todos os sonhos frustrados que não realizou. Ela se formará advogada, e quem sabe até virará juíza! Será eternamente linda como você fora e imensamente mais inteligente. Quando criança ela praticará patinação, ginástica olímpica, balé, natação e futebol. Tocará piano, violão e ainda fará aulas de inglês. Na adolescência terá as roupas de marca e os namorados mais bonitos. E quando finalmente chegar a idade adulta ela se casará com o primeiro idiota, assim como você.
Olhe bem. Não acha que estás cometendo os mesmos erros que a sua mãe? Lembra de toda aquela pressão psicológica pra você começar a fazer o curso de medicina? Tudo bem, não era o que você queria, mas começou o curso preparatório só pra agradá-la e largou tudo depois. E quando decidiu se casar com seu atual marido, deixando de lado aquele primo distante que era louco por você e que sua família aprovava? Não comece a surtar quando perceber que está fazendo com que a vida da sua filha seja tão medíocre quanto a sua. Ela ainda tem salvação, ela ainda pode ter um futuro diferente.
Não se culpe por sonhar por ela e nem por querer que tenha uma vida perfeita. É seu direito de mãe. Mas não se esqueça de que ela é um ser humano, e como você, vai contrariar tudo o que lhe disserem. Por dois motivos: ela é adolescente e vai achar que todos estão certos, menos você. E vocês duas são totalmente iguais, tudo o que você disser será como uma ordem contrária, assim como você fazia com a sua mãe.
No final perceberás que não importa o quão preocupada você for com as decisões dela, porque, afinal, as decisões são apenas dela. Aquela velha analogia de que filhos são como bolas de boliche funciona. Você dá o empurrão inicial e fica torcendo para que dê strike. Eles vão indo para um lado e para o outro. Dificilmente seguirão linha reta no objetivo. Você ficará do lado de fora torcendo e rezando. Quando chegar a hora, e ele realmente decidir se vai para a valeta ou para o meio da pista, você estará olhando para ele e pensando: “eu poderia ter feito diferente...”

Nenhum comentário: